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Daniel Caminha

O DESIGN ESTRATÉGICO E AS CONSTELAÇÕES SISTÊMICAS

Atualizado: 3 de jul. de 2020


Este artigo se propõe a expor algumas práticas e reflexões técnicas que nós, na Nômade, estamos realizando entre os campos da Psicologia e do Design, mais especificamente no território da abordagem Sistêmica. A Nômade é uma consultoria de inovação que desenvolve negócios a partir da transformação cultural e da articulação de novas capacidades junto às pessoas, dentro e fora das organizações.

Partimos de um breve alinhamento conceitual:

O Design Estratégico pode ser entendido como uma prática centrada no humano e orientada para necessidades amplas em desafios ligados ao desenvolvimento de diferentes áreas: negócios, saúde, educação, mudanças climáticas, para citar algumas. Ou seja, não está relacionado apenas à criação de forma e função de objetos ou mídias, como tradicionalmente é conhecido no visual design, graphic design, product design, entre outras tantas especialidades. A proposta do Design Estratégico é redefinir a forma como os problemas são abordados, identificando oportunidades e obstáculos para ação, contribuindo para entregar soluções mais completas e resilientes. Para tanto, faz uso de diversas ferramentas em processos que são dinâmicos e participativos.

A Constelação Sistêmica é uma técnica terapêutica proposta por Bert Hellinger (filósofo e psicanalista alemão). A partir da observação e estudo dos movimentos sutís que aconteciam nas sessões de psicodrama, abordagem de terapia em grupo, Hellinger propôs uma concepção de método que articula conhecimentos da fenomenologia, gestalt, biologia e física. Ele sugeriu que, através da simulação de um campo relacional, por meio da representação de elementos, se consegue ver dinâmicas ocultas que influenciam o sistema (famíla, empresa, grupo social) e descobrir onde há disfunções que podem gerar conflitos em diferentes formatos. Mais tarde, Gunthard Weber, também psicanalista alemão, contribuiu com a edição de livros e material teórico de fundamentação, sendo um importante agente para entrada das Constelações no ambiente organizacional.

Mas o que tem de afinidade entre essas duas abordagens? Qual é o sentido de buscar um uso conjunto?

Bert Hellinger trouxe, como base do seu estudo, um conjunto muito simples e profundo de leis, ou regras, que regem os sistemas relacionais que fazemos parte (famílias, empresas, grupos sociais). Ele diz que, além da consciência pessoal, existe uma consciência sistêmica que sofre efeitos transgeracionais, ou seja, acontecimentos que tiveram incidência em gerações passadas influenciam o que está acontecendo no presente. Essa influência não tem nenhuma relação com regras morais de justiça entre o bem e o mal, as Leis Sistêmicas de Hellinger estão baseadas em: buscar equilíbrio (entre dar e receber), reconhecer a ordem (precedência, o que veio antes) e afirmar pertencimento (incluir o que está excluído). Nessa dinâmica, os elementos de um Sistema são afetados, realizando movimentos de aliança, “faço como você”; ou reparação, “faço por ti”. Sem nos darmos conta, porque isso acontece no nível da consciência sistêmica, estamos emaranhados em dinâmicas que podem nos trazer sofrimento e prejuízos. Assim, as Constelações identificam elementos que podem estar em conflito e, percebendo sua interação através da ressonância dos campos mórficos (teoria proposta por Rupert Sheldrake), permitem que possam se reconhecer e realinhar, de forma a dissolver os emaranhamentos, deixando cada um no seu lugar e alinhado com a sua tarefa.

Bom, mas qual é a relação com o Design?

Desde uma concepção epistemológica, o Design, como ferramenta para solucionar problemas, traz algumas prerrogativas que reforçam a técnica das Constelações e vice-versa. Vamos tratar de algumas:

1. O poder da imagem para a solução

A mudança dos numerais romanos (I, II, III, IV…) para os arábicos (1,2,3,4…) deu conta de uma complexidade de cálculo que possibilitou grandes transformações. Hoje, da mesma forma, a complexidade, a incerteza e a ambiguidade dos problemas que tratamos não conseguem ser representadas por planilhas ou ferramentas analíticas convencionais (lineares). Os designers buscam representações visuais complexas, com mapas e gráficos para poder “fazer ver” as contradições e sobreposições de elementos (não-lineares), que em sua interação geram efeitos que podem ser negativos. Essa visualidade é uma prerrogativa das Constelações, que, ao colocar no “campo” os elementos para serem visualizados, facilita o “fazer ver” de uma complexidade (não linear) que gera disfunções, podendo, ao ser vista como imagem, ter um grande poder curativo e regenerativo.

Atividade de prototipação através da construção de modelos tridimensionais, possibilitou perceber a relação

entre os elementos e as suas interações.

2. Incluindo o excluído

Muitas vezes vemos apenas parte do problema, mas existem muitas informações ou elementos (pessoas e coisas) que não são percebidos, pois ficam no ponto cego das decisões. Podem ser pessoas ou histórias que em determinado momento foram esquecidas para que fosse possível seguir em frente. O Design busca proporcionar uma visão holística e integrativa, reconhecendo que as partes estão no todo e o todo está nas partes. Dessa forma, consegue gerar uma metaestrutura para tratar do problema em questão, ampliando as relações de causa-efeito e incrementando as possibilidades de solução. Nas Constelações tudo pertence, portanto, na medida em que vão sendo reconhecidos, os elementos são incluídos, e isso gera maior capacidade de um bom funcionamento.

Visualização da identificação de elementos que fazem parte do sistema através da ferramenta Mapa de Atores.

3. Perceber o que faz sentido

Não basta ter boas ideias. É importante implementar. Por isso, o Design tem tantas ferramentas de prototipação, são técnicas de testagem que se valem da experimentação junto ao usuário, ou potencial mercado, para validar conceito, funcionamento ou proposta de valor de determinada solução. A prototipação é uma ferramenta projetual para economizar tempo, energia e dinheiro. Através de bons protótipos conseguimos perceber se a solução faz sentido ou não para os usuários. Trazendo essa perspectiva para as Constelações, vemos quando constelamos (ação de colocar elementos em um campo de interação) que estamos, em outras palavras, prototipando possibilidades de um determinado sistema de funcionar, pois conseguimos verificar diferentes formatos que podem ser mais ou menos fluidos. A posição dos elementos interfere na qualidade da dinâmica do seu funcionamento. Em uma Constelação Estruturada, que é um tipo de abordagem para Constelar, podemos testar posições e orientar tomadas de decisão com uma consciência muito mais profunda, aumentando as possibilidades de assertividade frente ao que se propõe como sucesso.

Campo relacional com os elementos que fazem parte do trabalho de eletricistas, exercício

que ajudou a identificar quais são os efeitos de usar ou não os equipamentos de segurança

em programa de health and safety da AES Sul. Veja mais sobre o projeto aqui.

Esses três pontos são apenas algumas ideias de aproximação que potencializam as intervenções cruzando o Design Estratégico e a Psicologia Sistêmica com o uso das Constelações.

Esse texto foi escrito pelo Daniel Caminho e enviado para quem assina o Gulliver, a newsletter da Nômade.

 

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Quer se aprofundar sobre o assunto?

Seguem algumas referências que foram consultadas para este artigo.

Conceitos de Design Estratégico adaptados de Helsinki Design Lab: www.helsinkidesignlab.org

Conceitos de Constelação Sistêmica adaptados de Systemic Management de Cecilio Regojo: https://www.talentmanager.pt

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